A fumaça impregnada no ar, uma stripper fazendo gestos obscenos e um monte de gringos safados aproveitando mais uma noite nesta cidade de noites quentes.
- Uma dose de uísque, por favor.
Silenciosa e decidida ela se aproximou
- Posso me sentar
- Faça o que você quiser
- Te olhei de longe e te vi tão sozinho
- Pois é...
- Você é professor?
- Pareço com um professor?
- Parece - Então o sou
- E você?
- Não. Posso pedir algo pra beber?
- Fique à vontade – Nas circunstâncias, mais à vontade parecia impossível.
- Então...
- Você é novo por aqui, não é?
- Sou
- E você – Pergunta mais idiota não poderia existir. Disfarçou então.
- Sou. Estou só de passagem. Amanhã estou de partida.
- Ótimo!
A garçonete se aproximou dela, cochichou em seu ouvido e saiu.
- Olha, ela me disse que tem um quarto desocupado. O que você acha de irmos para lá?
- Tudo bem.
A ousadia de chamar aquilo de quarto era a mais absurda das afirmações que alguém poderia fazer. Um vão sujo, um colchão mais sujo ainda, lençóis usados e jogados no chão: um lugar agradável para a indecência que iria ocorrer. E ocorreu. 15 minutos, muitas mentiras e nada mais.
- Foi ótimo – Elas sabem o que dizer para seus clientes.
- Você gostou?
- É... O uísque estava bom.
- Então...
- Tá. Olha aqui seu dinheiro
- Obrigada!
- Aqui tá meu número. Liga quando tiver afim de novo.
- Obrigado!
Amassou o papel no bolso, pegou o carro e dirigiu para longe dali, deixando para trás todas as ilusões de uma fantástica noite luxuriosa e libidinosa, pensando se teria a mesma coragem a algum tempo atrás. Então sorriu de toda sua ingenuidade e casta pureza agora perdidas, e compreendeu o quão era prazerosa esta sensação.
Os infelizes vagabundos mal entendiam aquelas gargalhadas que viam daquele carro, que estranhamente circundava sem destino pelas ruas da cidade.