segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um instante, um abraço



O tempo me levou a cor dos olhos,
Devorou o sabor das coisas,
Dissipou o aroma das flores,
Mudou o tamanho de minhas roupas.

Insistente, cavou fundo minhas rugas,
Catou todas as minhas vergonhas,
Trouxe as antigas lembranças
Dos velhos dias de fuga

Se cansado agora me encontro,
De com o tempo travar este confronto,
Desabo então este corpo no templo que agora me acho

Esquecendo por instantes todo meu cansaço
Pousando a cabeça no teu colo
Que me acolhe neste forte abraço.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

despertar



De vida e sonhos vãos,
Ornado com ínfimas marcas e lacerações,
Ele violou sua mais nova conduta:
De não mais submeter-se a apego algum

De repente acordou numa cama que não era sua,
Tocou livros que não eram seus.
Teve medo, e mesmo assim foi capaz de sorrir:
Vivera de novo o amor.

Homem velho



Expurgado, recolheu-se a mudança
Traçou um ponto de fuga
Ensaiou mais uma partida
Limitou-se então a sentir a vida.

Conformado, não faz mais discernimentos nem provisões
Cansou-se das excessivas cotas de sanidade
Não se culpa, não se gasta com facilidade
Sente cada ruga que há em baixo de seus pés

Libertou-se da ébria esperança.
Curvou-se ao fato de que não se doma o por vir
E ainda assim, não se deve perder-se na curva do tempo.
Entendeu o quão frágil era sua segurança


Vertiginosamente precipita em si.
No abismo de seus dias longos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Labirinto



Há uma imagem, uma lembrança de minha infância que não me deixa nunca. Talvez a teima de sua permanência não seja suas nuanças, mas a frequência com a qual subitamente ela me visita. Lembro-me de uma manhã de sol, de um céu azul, de um parque numa pequena praça; lembro-me de outras crianças correndo comigo em sua direção. No centro desse parque, um labirinto. Ásperas paredes caiadas,  baixas demais para um adulto, gigantescas para nós, curiosos pequeninos. O mundo não era nada para mim, a não ser uma sucessão de dias e noites. Os dias não tinham nomes, as horas não tinham números: era eu e a sensação dos dias, eu e o embrulho das horas. O tempo fazia de mim peça de um jogo que hoje deveras consome boa parte de minhas dilacerações mentais. Em certo ponto desta lembrança, me vejo entrar no labirinto. Sinto o mormaço de suas paredes, o apertado espaço do corredor; ouço os gritos das outras crianças que me motivam, sem sentido algum, a gritar também; vejo logo ali em frente mais um corredor, outro sem saída, esbarro com um menino que some de repente em mais um corredor. Infinitas passagens estreitas embaixo de um céu que nunca muda de cor. O Fantástico dessa lembrança, e ao mesmo tempo engraçado, é que nela nunca acho a saída do famigerado labirinto. Seria Dédalo seu arquiteto? Não sei, não posso saber. O que sei é que nessa constante digressão, sustento a ideia de que meu eu menino ficou naquele labirinto, perdido nas dobras do tempo, sorrindo e gritando sem entender das horas e dos dias, embaixo do mesmo céu que nunca, nunca mudou de cor.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Passeio de elevador



O reflexo no painel de números
Flagrou a fresta na porta do elevador,
Tomou por instantes minhas rugas de curiosidade,
Lembrou-me de coisas muito antigas:

Andares desconhecidos,
Alturas que nunca temi, 
Velocidade que sempre me acostumei.



quinta-feira, 12 de maio de 2011

Doutrina e anarquia velada

NÃO homem NÃO que NÃO é NÃO homem NÃO chora...
NÃO homem NÃO que NÃO é NÃO homem NÃO escreve poesia...
ESTAMOS ENTENDIDOS?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Kimono


Para escutar enquanto lê o poema

Enquanto o mundo precipitava em silêncio
Em um tempo sem tempo
Vi dragões, tigres e aves dançarem sobre ti.
Sinuosos, ornando teu corpo.
Infinitas voltas nos teus braços e cintura

Agora cativo, pobre homem de guerras e lágrimas que sou,
Nada mais posso ver a não ser teus enigmáticos olhos negros
Que dizem "Decifra-me..." 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Rompendo o efêmero das horas


Vimos o sol pintar lentamente as paredes da sala
Rompendo o efêmero das horas,
Invadindo nossos olhos com cores vivas e lembranças
Eternas, posto que guardo este instante difuso entre sonho e realidade,
Que de súbito me acorda às três da manhã
Com uma mensagem que diz: "Saudades tuas"