segunda-feira, 23 de maio de 2011

Labirinto



Há uma imagem, uma lembrança de minha infância que não me deixa nunca. Talvez a teima de sua permanência não seja suas nuanças, mas a frequência com a qual subitamente ela me visita. Lembro-me de uma manhã de sol, de um céu azul, de um parque numa pequena praça; lembro-me de outras crianças correndo comigo em sua direção. No centro desse parque, um labirinto. Ásperas paredes caiadas,  baixas demais para um adulto, gigantescas para nós, curiosos pequeninos. O mundo não era nada para mim, a não ser uma sucessão de dias e noites. Os dias não tinham nomes, as horas não tinham números: era eu e a sensação dos dias, eu e o embrulho das horas. O tempo fazia de mim peça de um jogo que hoje deveras consome boa parte de minhas dilacerações mentais. Em certo ponto desta lembrança, me vejo entrar no labirinto. Sinto o mormaço de suas paredes, o apertado espaço do corredor; ouço os gritos das outras crianças que me motivam, sem sentido algum, a gritar também; vejo logo ali em frente mais um corredor, outro sem saída, esbarro com um menino que some de repente em mais um corredor. Infinitas passagens estreitas embaixo de um céu que nunca muda de cor. O Fantástico dessa lembrança, e ao mesmo tempo engraçado, é que nela nunca acho a saída do famigerado labirinto. Seria Dédalo seu arquiteto? Não sei, não posso saber. O que sei é que nessa constante digressão, sustento a ideia de que meu eu menino ficou naquele labirinto, perdido nas dobras do tempo, sorrindo e gritando sem entender das horas e dos dias, embaixo do mesmo céu que nunca, nunca mudou de cor.

Um comentário:

  1. Yan, a revista é distribuída. Minha mãe, por exemplo, pegou a dela na escola onde trabalha. Eu não consegui pegar um exemplar pra mim, pq faltei ao lançamento, e no dia seguinte, quando fui à Fundação José Augusto, disseram que não havia mais revistas lá. Preenchi um cadastro com meu endereço mas, até agora, nada.

    ResponderExcluir