sexta-feira, 22 de abril de 2011
Queda livre
Via o chão se aproximar, então teve a súbita ideia de não aparar a queda. Sentia um estranho desejo de se entregar a dor e de despertar os sentidos do torpor no qual seu corpo, que nunca fora tocado por niguém, estava aprisionado. Tudo isso a guiava para um caminho sem volta. Pensou em toda polidez nos gestos dos homens que conhecia. Eles não a desejavam e tudo isso lhe consumia. Era a dor do desejo desejando um pouco dor. Apertou as mão. O chão se aproximava, então ela sentiu os primeiros sintomas do medo, mas permaneceu firme em sua decisão. Fechou os olhos e largou os braços. Sentia o medo ceder lugar ao antegozo. Com olhos ainda fechados, percebendo que não setira o baque, teve a ligeira impressão de ter perdido a capacidade de sentir qualquer coisa. Ao abrir os olhos, percebeu que ainda estava em seu pequeno quarto. Em suas mãos, um pequeno rascunho que acabara de escrever. Terrível ilusão. Ela sonhara o conto que escrevera.
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